por Waldeck José
Fonte: Oxfam Brasil – https://www.oxfam.org.br/
Em um país que se orgulha de sua rica biodiversidade e vastas extensões de terra, é lamentável que o Brasil ainda seja palco de uma realidade aviltante e inaceitável: o trabalho escravo. Enquanto avançamos rumo ao futuro, é inconcebível que estejamos carregando o fardo da exploração humana em pleno século XXI. É hora de abordarmos com veemência essa questão e exigirmos mudanças significativas.
O trabalho escravo no agronegócio é uma mancha em nossa sociedade, uma ferida aberta que não pode mais ser ignorada. Os trabalhadores e trabalhadoras rurais, que deveriam ser valorizados como os pilares fundamentais da nossa produção de alimentos, são relegados à condição de seres descartáveis. Ficam aprisionados em fazendas durante as safras, à mercê de patrões cruéis, enfrentando péssimas condições de trabalho e moradia. A informalidade torna suas vidas ainda mais precárias, e a ameaça constante de violência paira sobre suas cabeças. Descontos ilegais em salários e servidão por dívida perpetuam o ciclo de exploração.
A responsabilidade por essa realidade atroz não é apenas dos empregadores, mas de toda a sociedade. Cada um de nós precisa levantar a voz e exigir mudanças. O governo tem papel fundamental nessa luta, começando por banir os agrotóxicos e princípios ativos proibidos na União Europeia. É inadmissível que o Brasil, o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, permita a circulação de substâncias que colocam em risco a saúde de seus próprios cidadãos. A aprovação da Política Nacional de Redução do Uso de Agrotóxicos (PNARA) é um passo urgente para a proteção de nossos trabalhadores e do meio ambiente.
As empresas, por sua vez, não podem mais se esquivar de sua responsabilidade nessa triste realidade. É imperativo que divulguem em seus sites a lista de agrotóxicos utilizados em seus produtos. Além disso, devem exigir que seus fornecedores também compartilhem essa informação. A transparência é uma ferramenta poderosa para pressionar por mudanças efetivas na cadeia produtiva, garantindo que produtos menos perigosos sejam utilizados em nossas terras, protegendo a saúde de trabalhadores e consumidores.
Não podemos mais aceitar que, para exportar para a Europa, sejam tomadas medidas mais rigorosas em relação ao uso de agrotóxicos, enquanto para consumo interno, toleramos a exposição constante a substâncias perigosas. Nossa saúde e bem-estar devem ser prioridades inegociáveis, independentemente do destino de nossos produtos.
Como sociedade, devemos nos unir em prol de uma mudança efetiva. Devemos defender os direitos humanos e a dignidade daqueles que trabalham arduamente para alimentar nossa nação. Chegou o momento de exigirmos do governo e das empresas que assumam suas responsabilidades nessa luta contra o trabalho escravo e o uso irresponsável de agrotóxicos.
O Brasil tem o potencial de ser uma referência mundial em sustentabilidade, respeito aos trabalhadores e cuidado com o meio ambiente. Para alcançarmos esse objetivo, cada um de nós deve se posicionar e lutar por mudanças significativas. Unamos nossas vozes e ações em busca de um país mais justo e digno, onde trabalho escravo e agrotóxicos sejam apenas uma página triste de nossa história, relegada ao passado.
