Trabalho Escravo: Espírito Santo tem 22 nomes na nova lista do MTE

Lista evidencia a diversidade das atividades exploratórias e revela o avanço da fiscalização trabalhista no interior do Estado.

Redação | Reportagem: Waldeck José

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) atualizou, no dia 9 de abril, a chamada “Lista Suja” do trabalho escravo — cadastro oficial de empregadores responsabilizados por submeter pessoas a condições análogas à escravidão. Nesta edição, 155 novos nomes foram incluídos, totalizando agora 745 empregadores listados em todo o país. O Espírito Santo aparece com 22 nomes, envolvendo mais de 225 trabalhadores explorados em condições degradantes.

As ocupações com maior número de registros nesta atualização foram: criação de bovinos (21 casos), cultivo de café (20), trabalho doméstico (18), produção de carvão vegetal (10) e extração de minerais diversos (7).

22 empregadores capixabas responsabilizados

No recorte estadual, o caso mais grave ocorreu em Vila Valério, onde Raul Alves Robert foi responsabilizado pela exploração de 70 trabalhadores. Outros municípios com maior número de trabalhadores em situação degradante foram Nova Venécia (com três empregadores na lista), Governador Lindenberg, Linhares, Afonso Cláudio e Sooretama.

Confira os nomes:

  • Abel Piona Bernabé – Governador Lindenberg: 12 trabalhadores
  • Álvaro Simões (Espólio) – Linhares (Pontal do Ipiranga): 1 trabalhador
  • Carla Lonardelli – Governador Lindenberg: 13 trabalhadores
  • Cláudio Mendonça Batista – Nova Venécia: 14 trabalhadores
  • Clóvis Andreazza Soares de Oliveira – Alto Rio Novo: 2 trabalhadores
  • E.N. de Souza Ltda – Guaçuí: 12 trabalhadores
  • Evandro Luiz Galavotti – Linhares: 5 trabalhadores
  • F.B. Transporte e Apoio à Agricultura Eireli – Itapemirim: 4 trabalhadores
  • José David Beninsenha – Marechal Floriano: 1 trabalhador
  • José Maria Pimentel Barcellos – Boa Esperança: 1 trabalhador
  • José Valentin Fracaroli – Rio Bananal: 11 trabalhadores
  • Josuel Santos da Silva – Jaguaré: 2 trabalhadores
  • Marcondes Engenharia e Construção – Nova Venécia: 18 trabalhadores
  • Matheus Mendonça Capores – Afonso Cláudio: 12 trabalhadores
  • Patrik Arpini – Sooretama: 13 trabalhadores
  • Paulo Silva Filippini – Linhares: 1 trabalhador
  • Raul Alves Robert – Vila Valério: 70 trabalhadores
  • Tiago Silva Filippini – 9 trabalhadores (caso ocorrido no RS)
  • Vanderlei Ceolin – Linhares: 6 trabalhadores
  • Venâncio Jacob – Vila Pavão: 10 trabalhadores
  • Wesley Scardua da Costa – Afonso Cláudio: 10 trabalhadores
  • WL Construções e Serviços – Nova Venécia: 2 trabalhadores

Caso emblemático: trabalho doméstico na casa de esposa de desembargador

Entre os novos casos nacionais, um ganhou repercussão: o da trabalhadora doméstica Sônia Maria de Jesus, encontrada em situação degradante na residência de Ana Cristina Gayotto de Borba, esposa do desembargador Jorge Luiz de Borba, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Surda e ainda em processo de alfabetização, Sônia foi inicialmente resgatada, mas acabou retornando à casa dos ex-patrões. Sua família luta na Justiça para retirá-la definitivamente do local.

Sobre a Lista Suja

A “Lista Suja” é regulamentada pela Portaria Interministerial nº 18/2024 e é atualizada semestralmente com base em processos administrativos já finalizados, onde foram esgotadas todas as possibilidades de recurso. Os nomes permanecem no cadastro por dois anos, e podem ser excluídos após esse período — como ocorreu com 120 empregadores no último dia 4 de abril.

As fiscalizações são feitas por auditores do MTE e contam com apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT), Polícia Federal, Defensoria Pública da União, entre outros órgãos. A cada ação, são lavrados autos que comprovam as violações, inclusive um específico para caracterização da submissão ao trabalho escravo.

Como denunciar

Qualquer cidadão pode denunciar, de forma remota e anônima, situações suspeitas de trabalho escravo por meio do Sistema Ipê, plataforma criada em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A ferramenta faz parte do Fluxo Nacional de Atendimento às Vítimas de Trabalho Escravo.

Reflexão e responsabilidade

A nova atualização da lista reforça que o trabalho análogo ao escravo não é um problema do passado, tampouco restrito a regiões afastadas. Ele persiste de forma discreta, mas cruel, inclusive no Espírito Santo, e exige vigilância da sociedade e ação firme do Estado.

A denúncia é uma das principais formas de romper o ciclo de violência e dar dignidade a quem mais precisa.

Nota de esclarecimento:

Em respeito ao princípio da imparcialidade e à ética jornalística, oferecemos a todos os citados na “Lista Suja” do trabalho escravo a oportunidade de se pronunciarem sobre os fatos relatados. Caso desejem fazer algum esclarecimento ou apresentar sua versão, pedimos que entrem em contato pelo e-mail: esjustica.org@gmail.com.

Com Informações do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)

Fonte: sinait.org.br/noticia/22526

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